domingo, 13 de novembro de 2022

S. Martinho: do verão e da vila


Agora que está a desvanecer-se o "verão de S. Martinho" achámos por bem falar de uma freguesia do nosso concelho que tem o nome do santo que se celebrou por estes dias.

S. Martinho do Porto, freguesia do concelho de Alcobaça, conhecida pela sua linda baía (a concha de S. Martinho) tem uma história naval, recheada de comércio e construção de navios, que é hoje difícil de vislumbrar.


O nome de S. Martinho remonta ao século XII quando parece que se terá fixado naquele lugar um monge devoto de S. Martinho: aquele da lenda da capa que se relaciona com o breve "verão".

Encontramos a primeira referência ao lugar com o nome S. Martinho num documento de Frei Estevão Martins, então abade do Mosteiro de Alcobaça, que é uma espécie de foral (reinava então D. Afonso III) que reconhece a importância do lugar. Era então o porto de escoamento dos produtos dos Coutos de Alcobaça, administrados pelos monges.

Nos séculos XV e XVI a importância do lugar é cada vez maior, como se verifica pelos forais outorgados pelo Cardeal D. Afonso e pelo rei D. Manuel.

Em 1527, por ordem de D. João III, é elevada a sede de concelho, com justiça própria. A construção naval era próspera: ao que consta algumas das naus da expedição de Alcácer Quibir terão sido aqui feitas. E assim continuou no século seguinte, em que estão documentados barcos importantes aqui fabricados. 

Mas o açoreamento da baía acabou por terminar com essa indústria, não permitindo a navegação a navios de grande porte.

Nos meados do séc. XIX S. Martinho era uma vila pequena e pobre cujo movimento do porto já nada tinha de notável e a vila acabou por ser integrada mo concelho de Alcobaça durante o reinado de D. Pedro V. Teve ainda um breve período em que esteve inserida no concelho de Caldas da Rainha, mas retornou a Alcobaça ainda no séc. XIX, para se tornar uma das mais belas estâncias balneares desde o início do séc.XX, em que muito se difundiu o gosto pela vida ao ar livre.

Assim, já sabemos a origem do nome de S. Martinho (por causa do monge devoto do Santos) e do Porto, devido ao importante porto de mar e estaleiro de construção naval que aqui existiu em tempos de mares mais fundos, antes do açoreamento da baía: a bela concha.

A Igreja Matriz, na velha vila de S. Martinho, lá em cima, foi construída no séc. XVIII e evoca o milagre do Santo: lá está o grande quadro com o cavaleiro a dividir o seu manto. Mas a devoção mais visível (com uma grande festa a 13 de junho) dirige-se a Santo António, cuja pequena capela vigia lá de cima o mar e norteava as preces dos pescadores. Há também uma lenda dedicada a esta devoção: A lenda do lago. Diz-se que num dia em que o mar se encapelou pondo em risco a vida dos pescadores de um barco que estava ao largo, Santo António desceu da sua capela e transformou o mar em lago, salvando a vida dos pescadores.


E dos santos e destas tradições se devia falar noutros tempos em torno das fogueiras em que se assavam os porcos e as castanhas, tudo regado a água pé. Lá diz o ditado: No São Martinho prova o teu vinho.








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