terça-feira, 21 de março de 2023

Dia da Poesia: Um Poema que pudesse morrer



"Quem me dera ter um jardim e saber das plantas e pô-las a florir e aquilo resistir, ou saber as que são de inverno e as que são de verão e funcionar como um indutor de beleza, seguro e consequente, durante o ano inteiro. 
Quem me dera que se visse alguma beleza que eu criasse, que eu pudesse oferecer, quem me dera que fosse uma beleza de perfumar e estivesse diante da minha casa por onde passassem as pessoas a ficarem alegres por ali passarem. 
Quem me dera que os poemas fossem coisas de corolas e cores e perdurassem inverno e verão, perfumando diante da minha casa.

Um poema onde as abelhas pousassem. 

Que incrível seria se houvesse um poema que soubesse oferecer pólen às abelhas, garrido como se dissesse as coisas às cores, intenso como se tivesse fragrância, delicado como se pudesse morrer. 
Um poema que pudesse morrer. 
Um que criasse em nós a urgência de o nutrir, vigiar, cuidar com as forças todas para que perdurasse como milagre vivo por gerações e gerações. 
Prezamos sempre melhor o que é passível de ser perdido para sempre. 
Queria poemas assim, à medida de mim que me vou perdendo para sempre lentamente."

valter hugo mãe, Autobiografia imaginária: Um poema que pudesse morrer, JL, nº 1044



Sem comentários:

Enviar um comentário

Dia da Poesia: Um Poema que pudesse morrer

"Quem me dera ter um jardim e saber das plantas e pô-las a florir e aquilo resistir, ou saber as que são de inverno e as que são de ver...