sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Em Memória das Vítimas do Holocausto

 A 27 de janeiro de 1945 as tropas soviéticas libertaram o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, situado no sul da Polónia. Foi um dos passos importantes para o final da 2ª Guerra Mundial que termina a 8 de maio seguinte, na Europa, com a capitulação da Alemanha (tendo-se prolongado um pouco mais no Pacífico).

Após o restabelecimento da Paz forma-se a ONU (Organização das Nações Unidas) que tem como finalidade regular as relações internacionais e zelar pela paz no mundo.

Foi este organismo que em 10 de dezembro de 1948 aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Em datas consideradas significativas, assinala Dias Internacionais, comemorativos ou para chamar a atenção para questões importantes que afetam a Humanidade.

Em 2005, pela resolução 60/7 da 42º sessão plenária da Assembleia da ONU, foi declrado o dia 27 de janeiro como o Dia em Memória das Vítimas do Holocausto.

O termo Holocausto deriva das palavras gregas "Holo" (todo) e "Caustos" (Queimado). Inicialmente este termo aplicava-se a rituais religiosos em que as oferendas (que poderiam ser animais) eram queimados. Estava muito associado a rituais do povo judeu, o primeiro povo monoteísta de que há memória, cuja história se encontra narrada no Antigo Testamento da Bíblia, que corresponde à Torah, livro sagrado para os Judeus.

Nos tempos modernos a palavra designa o genocídio (eliminação de todos os elementos de um povo) do povo judaico levado a cabo pelos nazis, antes e durante a 2ª guerra mundial (1939-45).

O povo judeu é também designado hebreu ou semita: palavra que provém do nome Sem, um dos filhos de Noé.

O antissemitismo (ódio e perseguição aos judeus) radica numa ideia muito antiga de que seria este povo o culpado pela morte de Jesus Cristo. Durante a Idade Média os judeus eram frequentemente culpados por vários males que se viviam (como as pestes) e por várias vezes foram organizadas caçadas e matanças sistemáticas de membros deste povo, para além de toda a perseguição que sofreram por parte do Tribunal da Inquisição, que só é extinto no séc. XIX.

Na sequência da derrota na 1ª Guerra Mundial (1914-1918) e da crise económica e social que se lhe seguiu surge o Nazismo na Alemanha. O Partido Nazi, fundado por Adolf Hitler em 1919, tinha uma ideologia nacionalista, racista e antissemita. Ao tornar-se líder da Alemanha, Adolf Hitler empreende uma perseguição aos judeus, que visava impedi-los de participar na sociedade, confisscar-lhes os bens e, em muitos casos, pura e simplesmente elimina-los, em favor de uma purificação da raça. Os Nazis chamavam a todo este procedimento "a solução final para a questão judaica".

Entre 1933 e 1939, o Partido Nazi, aliado a Agências Governamentais e aos Bancos, obrigou ao afastamento dos judeus de toda a vida económica. Os indivíduos considerados não arianos eram destituídos dos postos nos serviços públicos, as empresas judaicas foram fechadas ou vendidas por um preço inferior ao razoável e entregues a outras companhias que eram pertença ou administradas por não-judeus. Neste processo de "arianização", as empresas e os negócios dos Judeus transitaram para donos germânicos, com as poupanças e lucros destas vendas "amealhados" pelos hebreus a serem também abrangidos por pesadas taxas especiais. Em novembro de 1938, o assassinato de um diplomata alemão em Paris, perpetrado por um jovem judeu, motivou o incêndio de todas as sinagogas na Alemanha, bem como a detenção de centenas de elementos judaicos e a destruição de muitas montras das suas lojas, numa noite conhecida como a Kristallnacht. Esta noite seria o aviso para os Judeus da Alemanha e da Áustria emigrarem. Algumas centenas de milhares de pessoas procuraram refugiar-se noutros países, mas um considerável número de judeus, sobretudo os mais velhos e os mais pobres, permaneceram na Alemanha.

Com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, o exército alemão ocupou a parte ocidental da Polónia e assim passou a exercer o seu domínio sobre mais 2 milhões de judeus, que foram atingidos por restrições ainda mais rígidas do que as dos seus congéneres alemães. Os Judeus polacos foram encerrados em ghettos, limitados por arame farpado, chefiados por um conselho responsável pelo alojamento, condições sanitárias e  atividades produtivas. Uma rede de mais de quarenta mil instalações na Alemanha e nos territórios ocupados pelos nazis foi utilizada para concentrar, manter, explorar e matar judeus e outras vítimas. Para além dos judeus (principal alvo dos nazis) foram também aprisionados e eliminados ciganos, polacos, comunistas, homossexuais, prisioneiros de guerra soviéticos, testemunhas de Jeová e deficientes físicos e mentais. Todos aqueles considerados impuros e/ou não úteis à sociedade.

Na sequência do final da 2ª Guerra Mundial e, de certa forma como compensação ao povo judeu por tudo o que passou nesse processo, foi fundado o Estado de Israel, na Palestina (local de onde seria originário, segundo a tradição bíblica, este povo).

A formação do estado de Israel, em 1948 (declarado a 14 de maio) na Palestina não foi pacífica e ainda atualmente é uma zona de conflitos frequentes. Uma das principais cidades é Jerusalém, cidade sagrada para três religiões (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo). Isto vem criar muitos problemas de índole religiosa, a juntar aos problemas políticos e económicos da formação de um Estado no séc. XX num território rico em petróleo e numa zona de conflito permanente desde a Antiguidade.


A ideologia nazi é antidemocrática, porque é racista, afirma a desigualdade dos indivíduos e, num total desrespeito pela vida humana, considera a limpeza étnica: a eliminação de todosos que considera impuros. No entanto existe atualmente um movimento conhecido como "neonazismo" por procurar recuperar todas as teorias que causaram a guerra e o holocausto.

Daí a importância de recordar o Holocausto: esta memória tem a função de homenagear as vítimas, mas, sobretudo de nos manter alerta para que não deixemos que nada de semelhante possa acontecer de novo.

Numa atualidade marcada por conflitos armados e por crises económicas e humanitárias, numa Europa mairotariamente democrática, que deposita nos seus cidadãos a responsabilidade de decidir de forma consciente e de agir na sociedade de forma informada, é urgente não deixar esquecer para não deixar voltar a acontecer. Conhecer a História para defendermos os valores em que acreditamos, os valores de uma Cidadania Democrática, de um regime ético e político que assenta na participação dos cidadãos, no respeito pela expressão da sua vontade: nas eleições, nas manifestações, no debate de opiniões, nas petições...Enfim, na ação informada e implicada dos Cidadãos. 

Porque a Cidadania é sobretudo Participação!




segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Liberdade, Fiabilidade, Responsabilidade

 Hoje em dia navegamos muito ao sabor dos ventos e correntes das redes sociais. Há um primeiro 'post' de que nem sabemos bem a origem e, minutos depois, por redes do mundo inteiro, a informação foi difundida, sem ser analisada ou verificada a sua veracidade e fiabilidade.

Navego nas redes sociais, como toda a gente (atrevo-me a usar esta generalização, apesar de chamar muitas vezes a atenção para a injustiça das generalizações) e hoje deparo-me com uma profusão de publicações sobre o Dia Mundial da Liberdade. 

Procuro a sua origem. Dizem as várias publicações que encontro (que afinal parece que são todas a replicação de uma) que hoje é o Dia Mundial da Liberdade, definido pela ONU e difundido pela UNESCO. Que ótimo, penso, vou aproveitar para escrever algo do tanto que deste tema me interessa para a formação de Cidadania. Vamos então ver como, quando e porquê, considerou a ONU (Organização das Nações Unidas) este dia como o Dia Mundial da Liberdade?

No site oficial da ONU não existe nada sobre isto. Fala do Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, que se definiu como sendo o dia 3 de maio. Estranho...Depois comecei a pensar que a designação "dia mundial" é de desconfiar, pois, dada a dificuldade de todo o mundo se por de acordo sobre determinados assuntos (devido a diferenças culturais, religiosas, de agenda política, etc) é mais comum designar-se uma data como "dia internacional". Será verdade, pois são vários os países que a comemoram (normalmente os países membros da ONU) e menos arrogante, abandonando a pretensão de ser mundial. Aprendi também que há vários dias que se diziam por cá mundiais (por exemplo, o Dia Mundial da Criança) e que o não são, tendo vindo a encontrar a mesma data comemorada em dias diferentes, conforme os países: neste caso o Dia da Criança que se comemora em Portugal a 1 de junho é comemorado no Brasil a 12 de outubro.

Pesquiso, pesquiso e encontro então a possível fonte que jorrou a informação de hoje nas redes, mais exatamente no Facebook, que foi onde eu vi e não quero generalizar: calendarr.com. Esta página pode depois adaptar-se a cada país, selecionando o país pretendido numa lista de países. Selecionei, obviamente Portugal, com o tema pesquisado e surge o seguinte texto:

"O Dia Mundial da Liberdade celebra-se a 23 de janeiro.

Em Portugal o Dia da Liberdade comemora-se a 25 de abril, mas a data internacional para celebrar a liberdade calha no calendário a 23 de janeiro. A data foi criada pela ONU e proclamada pela UNESCO.

A liberdade é um direito de todos os seres humanos para realizarem as suas próprias escolhas, para traçarem o seu futuro e determinarem as suas opções de vida.

Liberdade na Declaração Universal dos Direitos Humanos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos contempla a liberdade no Artigo 1.º: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” (...) "  https://www.calendarr.com/portugal/dia-mundial-da-liberdade/

Na realidade, quando se indica uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas costuma indicar-se a data e o nº da resolução. Não consegui encontrar nada disso e por isso desconfio, agora, da veracidade desta informação, da fiabilidade desta página de internet e da capacidade analítica de todos os que difundiram a informação.

Mas apesar de tudo isto resolvi não perder a oportunidade de celebrar a Liberdade, aproveitando para incentivar o uso do espírito crítico na difusão de informação. O facto de termos muita (não toda!) a informação disponível nem sempre quer dizer que essa informação corresponda necessariamente a conhecimento, se a usarmos de forma automática, sem a verificarmos e termos a certeza daquilo que estamos a afirmar.

Gosto muito de frisar que Liberdade rima com Responsabilidade e essa é a forma como a informação (livre) deve ser usada em Democracia, num verdadeiro exercício de Cidadania.

Já agora aproveito pata divulgar as páginas fiáveis para procurar os dias designados pela ONU: 

    em português: https://unric.org/pt/

    em inglês: https://www.un.org/en/

Boas pesquisas!  Boas aprendizagens!



 

Dia da Poesia: Um Poema que pudesse morrer

"Quem me dera ter um jardim e saber das plantas e pô-las a florir e aquilo resistir, ou saber as que são de inverno e as que são de ver...